segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Eterna Insatisfação

Acho que às vezes, sou uma eterna insatisfeita.
E não é uma ingratidão pela vida.
Acho que realizar sonhos, construir carreiras e possuir coisas materiais são desejos absolutamente naturais, esperados e até necessários, pois deles nasce o progresso. O problema, dizia ele, só surge quando ambição vira ganância ou quando alguém é prejudicado.
Fora isso, a insatisfação é benéfica e, se não existir, principalmente na juventude, alguma coisa vai mal em sua cabeça.
É triste, claro, ver que pessoas não tem o que comer, tem problemas de saúde, enfim... problemas que encaramos dia a dia. Sentir aquele aperto no peito seria cumprir com meu papel, minha responsabilidade de pessoa estudada, dotada do poder de tratar, acudir, ajudar, e, acima de tudo, ensinar. O que não pode, em hipótese alguma, era cair na armadilha da vitimização. E muito menos do apequenamento. Fazer-me de vítima ou diminuir-me diante do sofrimento das pessoas não iria me ajudar a ajudá-las. Eu devia querer mais, até para estar melhor para lutar.
Para a abelha, uma flor é uma fonte de vida. Para a flor, uma abelha é mensageira do amor. Para ambas, dar e receber é uma necessidade e um êxtase.
As pessoas que resolvem pouco querer da vida porque não consideram justo terem muito, enquanto outros têm tão pouco, colaboram tanto com o meio social quanto aqueles que querem tudo para si, sem se preocupar com os demais. O egoísmo faz uma pessoa querer só para si; o altruísmo leva a pessoa a querer para si e para todos. Ser altruísta não é privar-se, é doar-se. E só doa quem tem o que doar, ou ainda, só se doa quem se tem.
O filósofo Mário Sérgio Cortella, em seu livro Não Nascemos Prontos (Vozes), ensina que o homem insatisfeito é o que tem o poder de provocar mudanças ao seu redor. A satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento, diz ele. Ele alega que não tem afeição pelos satisfeitos, pois a satisfação acalma, limita, amortece, e ele prefere os que estão em movimento, os insatisfeitos.
Felizmente a insatisfação é uma condição humana, pertence à categoria dos instintos de sobrevivência, e responde pela evolução.
O satisfeito estanca, o insatisfeito galopa.
E disse ainda Guimarães Rosa, que o animal satisfeito dorme, e por isso é morto pelo predador.
A insatisfação do leão, por comida, espaço, fêmeas, lhe proporcionou a condição de rei da savana. Ele sempre quer mais.
E é sua ânsia de querer que gera movimento em seu grupo e estimula tanto seu poder de caça quanto a atenção dos gnus e das zebras. Estamos, simplesmente, falando da evolução das espécies.
Entre os humanos, a insatisfação também provoca evolução. O satisfeito pára, o insatisfeito continua. Quem está satisfeito com seu desempenho no trabalho não trata de melhorá-lo.
O homem que se sente satisfeito com sua relação amorosa interrompe o galanteio, a conquista, e dá início ao fi m.
Quanto à mulher, a melhor é a insatisfeita, que deseja mais de seu companheiro, por isso o estimula e cresce com ele.
A plenitude gástrica das relações provoca sono, o desejo de querer mais desperta.
Portanto, a insatisfação é boa, o problema é a ansiedade que ela gera. É dela que nos queixamos e desejamos nos livrar. Mas, em nossa cabeça confusa, misturamos as coisas e achamos que a satisfação originada por uma diminuição nas expectativas diminuirá a ansiedade. Pode ser, mas, com o tempo, poderá gerar frustração, o que, convenhamos, é muito pior.
Saiba que seu destino é traçado por seus próprios pensamentos, e não por alguma força que venha de fora. Seu pensamento é a planta concebida por um arquiteto para construir um edifício denominado prosperidade. Você deve tornar seu pensamento mais elevado, mais belo e mais próspero.
Essa frase pode ter um poder oculto. Ela nos leva a pensar que podemos ter mais do que temos hoje, e não só podemos como também merecemos. Que, a partir da maneira como organizamos nossos pensamentos, estruturamos a vida para conseguir retirar dela tudo o que ela tem para nos oferecer. A frase também sugere que há um jogo de forças entre o interior e o exterior de uma pessoa, e que a qualidade do pensamento, que é uma força interna, é o que dará o tom de seu destino. Insiste na idéia da prosperidade, mas a vincula à beleza e à elevação das pessoas.
Trata-se de uma frase que pode tirar uma pessoa do conformismo, da passividade, e levá-la a acreditar que a todos nós é dado o direito de querer mais, de ser ambicioso, insatisfeito. Ela nos diz que quem está satisfeito se deixou vencer pelo que vem de fora e entregou seu destino aos outros, ao sistema, e abdicou do controle sobre sua própria vida.
Há frases que são assim. Nos fazem pensar e sentir, e custam a desgrudar de nosso cérebro. Em geral são pronunciadas por pessoas insatisfeitas, pois os satisfeitos estão gozando sua satisfação e não têm tempo nem necessidade de pensar, quanto mais construir idéias de mudança.
A frase em questão não é de nenhum escritor de livros de auto-ajuda, nem de um guru do mundo dos negócios. Seu autor, entretanto, foi um homem altamente inconformado com sua vida e com a vida de seu povo. Seu nome era Martin Luther King. E olhe só o legado que esse insatisfeito deixou com seu sonho de mudar o mundo.

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