domingo, 17 de junho de 2012

Meus amigos

Dei pra me emocionar cada vez que falo dos amigos.

Deve ser a idade, dizem que a gente fica mais sentimental.

Mas é fato: quando penso no que tenho de mais valioso, os amigos aparecem em pé de igualdade com o resto da família.

E quando ouço pessoas dizendo que amigo, mas amigo meeeesmo, a gente só tem dois ou três, empino o peito e fico até meio besta de tanto orgulho: eu tenho muito mais do que dois ou três.

São uma cambada. Não é privilégio meu, qualquer pessoa poderia ter tantos assim, mas quem se dedica?

Fulano é meu amigo, Sicrana é minha amiga. É nada. São conhecidos. Gente que cumprimentamos na rua, falamos rapidamente numa festa, de repente sabemos até de uma fofoca sobre eles, mas amigos? Nem perto.

Alguns até chegaram a ser, mas não são mais por absoluta falta de cuidado de ambas as partes.Amizade não é só empatia, é cultivo. Exige tempo, disposição.

E o mais importante: o carinho não precisa - nem deve - vir acompanhado de um motivo.

As pessoas se falam basicamente nos aniversários, no Natal ou para pedir um favor - tem que haver alguma razão prática ou festiva para fazer contato.

Pois para saber a diferença entre um amigo ocasional e um amigo de verdade, basta tirar a razão de cena. VOcê não precisa de uma razão. Basta sentir a falta da pessoa.

E, estando juntos, tratarem-se bem.Difícil exemplificar o que é tratar bem. Se são amigos mesmo, não precisam nem falar, podem caminhar lado a lado em silêncio.

Não é preciso trocar elogios constantes, podem até pegar no pé um do outro, delicadamente. Não é preciso manifestações constantes de carinho, podem dizer verdades duras, às vezes elas são necessárias.

Mas há sempre algo sublime no ar entre dois amigos de verdade. Talvez respeito seja a palavra. Afeto, certamente. Cumplicidade? Mais do que cumplicidade. Sintonia?Acho que é amor.

Só mesmo amando para você confiar a ele o seu próprio inferno.

E para não invejarem as vitórias um do outro.

Por amor, você empresta suas coisas, dá o seu tempo, é honesto nas suas respostas, cuida para não ofender, abraça causas que não são suas, entra numas roubadas, compreende alguns sumiços - mas liga quando o sumiço é exagerado.

Tudo isso é amizade com trato. Se amigos assim entraram na sua vida, não deixe que sumam.

Porém, a maioria das pessoas não só deixa como contribui para que os amigos evaporem.

Ignora os mecanismos de manutenção.

Acha que amizade é algo que vem pronto e que é da sua natureza ser constante, sem precisar que a gente dê uma mãozinha.

E aí um dia abrimos a mãozinha e não conseguimos contar nos dedos nem doisamigos pra valer.

E ainda argumentamos que a solidão é um sintoma destes dias de hoje, tão emergenciais, tão individualistas.

Nada disso.

A solidão é apenas um sintoma do nosso descaso. 

Martha Medeiros

 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O AMOR QUE EU QUERO PRA MIM


Eu quero o amor verdadeiro do Exupéry.
O dolorido do Caio F.
O avassalador do Carpinejar.
O amor romântico do Vinicius.
O contraditório do Camões.
O sem pedir retorno do Shakespeare.
O sem razões do Drummond.
O amor malandro do Chico. 
O que te enche de rosas do Pessoa.
O que perdoa tudo da Coralina.
O amor vivido até a ultima gota da Clarice

Eu quero aquele amor que te liga pra te acordar.
Dar bom dia.
Perguntar se comeu.
O amor perdigueiro que divide o dia em 10.
Só pra ter 10 motivos para ligar.
Saber o que vai fazer hoje.
Dizer que está com saudades.

O amor que te veste e te despe.
Com carinho.
Com cuidado.
Sem o menor pudor.

Eu quero o amor que vasculhe minhas coisas.
Quero mesmo o ciúme descabido.
Que leia minhas mensagens.
Que leia minhas idéias.
Que pergunte pra onde eu vou.
Com quem.
Quando.
Porque.
Precisa? 

O amor que conquista meus amigos.
Que é amigo do meu melhor amigo.
Que é meu melhor amigo.

Eu quero o amor que me escreva cartas.
Que lute com os dragões.
Que prometa amor eterno.
Pode ser eterno só enquanto durar. 
Podem ser os dragões de casa mesmo. 
Pode ser uma mensagem de texto no celular. 

Eu quero o amor que quer me conquistar todo dia.
O amor que fica rouco de tanto elogiar meus olhos.
E meu sorriso.
Que me traga um café na cama.
E não reclame que eu esqueci a toalha.

Eu quero um amor pra contar histórias. 
Eu quero um amor que termine minhas histórias.
Que termine minhas histórias sobre o amor.

Lucas Araujo

 

Daniela Botti D. Bastos

Bióloga